segunda-feira, 23 de junho de 2008

Esse juiz será tataravô do coronel Prado?

SENTENÇA JUDICIAL EM 1833 - PROVÍNCIA DE SERGIPE
"Ipsis litteris, ipsis verbis" - (LINGUA PORTUGUESA ARCAICA)

PROVÍNCIA DE SERGIPE
O adjunto de promotor público, representando contra o cabra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant'Ana quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra que estava de em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume, e como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará. Elle não conseguiu matrimonio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia e Norberto Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante.
Dizem as leises que duas testemunhas que assistam aqualquer naufrágio do sucesso faz prova.
CONSIDERO: QUE o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ela e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana; QUE o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quiz também fazer conxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzellas; QUE Manoel Duda é um sujeito perigoso e que não tiver uma cousa que atenue a perigança dele, amanhan está metendo medo até nos homens.
CONDENO: O cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa.
Nomeio carrasco o carcereiro.
Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.
Manoel Fernandes dos Santos, Juiz de Direito da Vila de Porto da Folha
Sergipe, 15 de Outubro de1833.
(Fonte: Instituto Histórico de Alagoas)

8 comentários:

Tarcila Moura Fé disse...

Minha Nossa...

João Gabriel Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Hehehehehehehe
Muito bom, Marcos.
Incrível ver como as relações de poder se manifestam numa determinada configuração moral de uma sociedade.
Fiz um trabalho sobre esse caso semestre passado. Foi a partir dele que comecei a me interessar por Foucault, Derrida e outros malucos desses.
Fica bem mais interessante analisar a história a partir desses eventos que revelam a cultura do poder de um tempo e com as marcas deste tempo se entrelaçam nas relações entre os indivíduos por signos, linguagens que se desenvolvem e se revelam de maneira mágica.

Anônimo disse...

Mas eu tenho que te agradecer bastante, também. Foi quem mais me incentivou a ler esses doidos e perceber a realidade de uma forma tão doida quanto eles, mas bastante realista.
Valeu!
Abraços,
J. Gabriel.

B.Sousa... disse...

justiça seja feita... :)

Michele disse...

minha vó aqui do lado ta me perguntando aonde esta o absurdo nesse texto. será que o coronel tinha alguma raiz demerval lobense?
por que a semelhança aqui é bem visivel!

José Reis disse...

Digno de um Mariano Maques...

Unknown disse...

kkkk...essa boa! vou precisar rever meus conceitos de direito!